25.12.08

ΑΝΤΙΝΟΟΣ

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ANTINOO
Fernando Pessoa

A chuva cai, e ele jaz
como alguém que de seu amor esqueceu todos os gestos
E jaz desperto à espera que regressem quentes.
Suas artes e brincos ora são ceo a Morte.
Humano gelo é este sem calor que o mova;
Estas cinzas de um lume não chama há que acenda.

Que ora será, Adriano, a tua vida fria ?
Quão vale ser senhor dos homens e das coisas ?
Sobre o teu império a ausência dele desce como a noite.
Nem há manhã na esperança de um deleite novo;
Ora de amor e beijos viúvas são as tuas noites;
Ora os dias privados de a noite esperar;
Ora os teus lábios não têm fito em gozos,
Dados ao nome só que a Morte casa
À solidão e à mágoa e ao temor

Tuas mãos tacteiam vagas alegria em fuga
Ouvir que a chuva cessa ergue-te a cabeça,
E o teu relance pousa no amorável jovem.
Desnudo ele jaz no memorado leito;
Por sua própria mão ele descoberto jaz.
Aí saciar cumpria-lhe teu senso frouxo,
Insaciá-lo, mais saciando-o, irritá-lo
Com nova insaciedade até sangrar teu senso.

Suas boca e mãos os jogos de repôr sabiam
Desejos que seguir te doía a exausta espinha.
Às vezes parecia-te vazio tudo
A cada novo arranco de chupado cio.
Então novos caprichos convocava ainda
À de teus nervos, carne, e tombavas, tremias
Nos teus coxins, o imo sentido aquietado.
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(poesia originalmente escrita em inglês, tradução de Jorge de Sena)

10.12.08

ΛΑΪΟΣ ΚΑΙ ΧΡΥΣΙΠΠΟΣ

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Na mitologia grega, Laio era filho de Lábdaco, rei de Tebas. Seu pai foi morto por bacantes vingativas pela repressão ao culto a Dionísio. Como Laio ainda era criança, a regência de Tebas foi entregue a Lico. Quando os tiranos Anfião e Zeto mataram o regente e tomaram o poder na cidade, o príncipe foi exilado na Frígia, na corte do rei Pélope. Lá, enamorou-se de Crisipo, filho de Pélope e príncipe-herdeiro do trono frígio. Para viver seu amor, Laio armou um plano: ofereceu-se para escoltar o rapaz até os jogos de Neméia, onde ele iria participar como atleta. Após as competições, em vez de retornar à Frígia, Laio raptou Crisipo e fugiu para Tebas, onde pretendia recuperar o trono de seu pai. Furioso, Pélope perseguiu-os, mas Crisipo, temendo a humilhação e a punição do pai, além de instigado por seus meio-irmãos Atreu e Tiestes, cometeu suicídio atirando-se num poço. Por ter perdido o herdeiro, Pélope culpou Laio e lançou sobre ele uma maldição: se tivesse um filho, seria morto pelo próprio e sua descendência sofreria conseqüências trágicas.
Laio continuou vivendo em Tebas, onde conheceu a jovem Jocasta (irmã do nobre Creonte) e se casou com ela. Após a morte dos tiranos Anfião e Zeto, Laio foi chamado pelos cidadãos a assumir o trono e, assim, a dinastia labdácida foi reconduzida ao poder. Por causa da maldição, tentou evitar ter filhos e, quando nasceu o primogênito, mandou furar-lhe os pés e abandoná-lo no Monte Citerão. Mas o bebê acabou recolhido por um pastor e batizado como Edipodos (o de pés furados), ou Édipo.
De acordo com a mitologia, a maldição de Pélope, conhecida como "Maldição dos Labdácidas" (a dinastia tebana iniciada com Lábdaco), foi concretizada quando o filho de Laio, Édipo, matou o pai e desposou a própria mãe, Jocasta, sem saber.
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Na Mitologia grega, Crisipo era filho ilegítimo de Pélope e da ninfa Axíoque e meio-irmão de Atreu, Tiestes e Alcatos.
Ainda jovem, foi levado pelo Rei Laio de Tebas para ser condutor de uma quadriga, nos jogos de Nemeia. Na verdade era um plano de Laio para raptar o jovem e forçá-lo a ser seu amante em Tebas. Mas Pélope recuperou-o mais tarde à força de armas.
Hipodâmia, sua madrasta, odiava-o, e teia que um dia se tornasse rei, ao invés dos seus filhos. Convencidos pela mãe, Atreu e Tiestes mataram Crisipo, atirando-o para um poço. Após o crime, Pélope expulsou Hipodâmia e os seus dois filhos, que se refugiaram em Micenas.
Segundo outra versão, Crisipo se matou de vergonha por causa de Laio, e isso fez Pélope amaldiçoar Laio e seus descendentes
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pt.wikipedia.org

25.11.08

ΓΑΝΥΜΗΔΗΣ

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GANIMEDES
Roberto Piva
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76
Teu sorriso
olhinhos como margaridas negras
meu amor navegando na tarde
batidas de pêssego refletindo em seus olhinhos de
fuligem
cabelos ouriçados como um pequeno deus de salão
rococó
força de um corpo frágil como âncoras
gostei de você
eu também
amanhã então às 7
amanhã às 7
tudo começa agora num ritual lento & cercados de
gardênias de pano
Teu olhar maluco atravessa os relógios as fontes a tarde
de São Paulo como um desejo espetacular tão
dopado de coragem
marfim de teu sorriso nascosto fra orizzonti perduti
assim te quero: anjo ardente no abraço da Paisagem

10.11.08

ΕΛΛΗΝΙΚΕΣ ΛΕΞΕΙΣ ΓΙΑ ΤΟΝ ΕΡΩΤΑ

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Palavras gregas para o amor
Um número diferente de palavras gregas é utilizadas para o amor, como em toda a língua grega se distingue a palavra pela forma que ela é usada. No Grego antigo tem três palavras distintas para o amor: eros , philos, e ágape. Entretanto, como com outras línguas, fica historicamente difícil separar os significados destas palavras. Apesar de tudo, os sentidos em que estas palavras foram usadas geralmente são dados abaixo.
.....O érōs de Eros (ἔρως) é amor apaixonado, com desejo e apetite sensual. A palavra grega moderna “ erotas ” significa “o amor (romântico)”. Entretanto, o Eros não tem que ser de natureza sexual. O Eros pode ser interpretado como um amor para alguém que você ama mais do que o amor de Philos da amizade. Pode também aplicar-se a datar relacionamentos bem como a união. Platão refinada a sua própria definição. Embora o eros seja sentido inicialmente para uma pessoa, com contemplação transforma-se numa apreciação da beleza dentro dessa pessoa, ou transforma-se mesmo a apreciação da beleza própria. Deve-se anotar que Platão não conversa da atração física como uma parte necessária do amor, daqui o uso da palavra platônico significar, “sem atração física”. Para Platão o Eros também ajuda ao conhecimento da recordação da beleza da alma, e contribui para a compreensão da verdade espiritual. Os amantes e os filósofos todos são inspirados a procurar a verdade pelo eros. O trabalho antigo o mais famoso sobre o assunto eros é de Platão o Simpósio, é uma discussão entre os estudantes de Socrates sobre a natureza de eros.
..... A Philia (φιλία), amizade no grego moderno, um amor virtuoso desapaixonado, era um conceito desenvolvido por Aristóteles. Inclui a lealdade aos amigos, à família, e à comunidade, e requer a virtude, a igualdade e a familiaridade. Em textos antigos, a philia denota um tipo de amor global, usado como amor entre a família, entre amigos, um desejo ou a apreciação de uma atividade, bem como entre amantes. Este é o única outra palavra para o “amor” usada nos textos antigos dos Novo Testamento além de ágape, mas uniforme é usado substancialmente menos.
.....A agápē de Ágape (ἀγάπη) significa o “amor” no grego moderno atual. O s'agapo do termo significa “eu te amo” em grego. A palavra ” agapo “ vem do verbo “amar”. No grego antigo se refere frequentemente a uma afeição mais ampla do que à atração sugerida pelo ” eros “; o agape é usado em textos antigos para denotar sentimentos como uma refeição boa, de uma criança, e os sentimentos para com o esposo. Pode ser descrito como o sentimento de estar satisfeito ou de se ter em consideração elevada. O verbo aparece no Novo Testamento que descreve, entre outras coisas, o relacionamento entre Jesus e os seu discípulo amado. Na literatura biblica, seus significados são ilustrados como auto-sacrifício, dando o amor a todos -- amigo e inimigo. É em Mateus 22:39 é usado, “ame seu vizinho como a si mesmo,” e em João 15:12, “O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.” e em João 4:8, “Deus é amor.” Entretanto, a palavra “ágape” não é usada sempre no novo Testamento no sentido positivo. Na Segunda Epístola a Timóteo 4:10 a palavra é usada no sentido negativo. O Apóstolo Paulo escreve, “Demas me abandonou, por amor (agapo) das coisas do século presente….” A palavra “ágape” não é usada assim sempre de um amor divino ou amor de deus. Os comentadores Cristãos expandiram a definição grega original para abranger um compromisso total ou o amor de auto-sacrifício para o que se ama. Por causa do seu uso freqüente no Novo Testamento, os escritores Cristãos desenvolveram uma quantidade significativa de teologia baseada unicamente na interpretação desta palavra.}
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pt.wikipedia.org/wiki/

25.10.08

ΟΜΟ-ΕΡΩΤΙΚΗ ΠΟΙΗΣΗ: ΚΩΝΣΤΑΝΤΙΝΟΣ ΚΑΒΑΦΗΣ

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Poesia, memórias e confissões na Alexandria de Kaváfis
Roger Miguel Sulis (UFSC)
Poesia grega moderna; poesia homo-erótica; Konstaninos Kaváfis.
Conhecido como o poeta de Alexandria, Konstantinos Kaváfis (1863-1933) é dono do que José Paulo Paes – seu grande divulgador no Brasil – chama de uma obra poética “exígua mas prodigiosa”
Grande parte dessa obra, ou pelo menos a mais conhecida, versa sobre o corpo, e se desenrola sobre um pano de fundo platônico, mormente um jogo de palavras: σώµα/σήµα, ou seja, corpo/túmuloE em sua obra canônica, tal conjugação se acha impressa nos corpos belos esensuais de mortos jovens e no horror à degradação da velhice, ao corpo velho, já morto para os prazeres.
Digo em sua obra canônica, porque esse jogo de palavras, bem como outros artifícios arteiros, lhe serviram para que se munisse de defesas ao celebrar o amor homossexual no ambiente permissivo e cosmopolita da Alexandria muçulmana, arquitetado no projeto de modernização e renascença cultural de Muhammad Ali, e ao mesmo tempo repressor, então sob ocupação britânica, que impunha uma mimese da moralidade vitoriana
E conquanto sua obra seja hoje reconhecida e admirada, não se pode deixar esquecer que à época, o poeta arriscava que se lhe fechassem as portas, ignorassem, e até mesmo enfrentar um julgamento ou o exílio. Apesar disso, gozava de uma certa tolerância no ambiente aristocrático e nouveau riche da comunidade grega local, pois que não era o único homossexual entre eles.
De fato, e não sem uma fina ironia, sua ousadia e seu sucesso se expressaram na apropriação desse ambiente hostil. Do qual encontra refúgio em quartos miseráveis e infames, tavernas suspeitas, becos imundos, prostíbulos, onde encontram expressão prazeres ilícitos, gozos suspeitos,atrações anômalas, sempre furtivamente, às escondidas, mas também sempre encontrados:
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Seu Princípio
A satisfação do seu prazer ilícito
ocorreu. Levantaram-se do colchão,
e vestem-se apressadamente sem falar.
Saem em separado, furtivamente da casa; e porquanto
caminham um tanto inquietos pela rua, parece
que suspeitam que algo sobre eles denunciaem
que tipo de leito deitaram há pouco.
Mas como a vida do artista ganhou.
Amanhã, depois de amanhã, ou com os anos serão escritos
os versos fortes que aqui tiveram seu princípio.
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De modo a dissimular esse encontro, sua inspiração, com o artifício da memória, raro oferece o que existe, mas o que falta e o que já foi. Percebe-se uma constante e estável deriva da emoção, do eu, em tempo e espaço, a outros personagens. E creio, como Dimarás que essa derivada emoção, tão característica da poesia kavafiana, a partir da percepção estética do Símbolo, proporciona outra operação característica, a de um desvelamento:
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Ímenos
“...Ser amado ainda mais
o prazer que se obtém morbidamente e com depravação;
raro encontrando o corpo que sente como o quer –
que morbidamente e com depravação, proporciona
uma tensão erótica, que a saúde não conhece...”
Fragmento de uma carta
do jovem Ímenos (de família patrícia) notório
em Siracusa por licensiosidade,
nos tempos licenciosos de Mikhail terceiro.
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Aparentemente ambientado na Sicília bizantina do século IX e englobando um outro poema,a peça é um exemplo bem característico da deriva kavafiana. Não só a suposta carta é forjada, comotam bém seu próprio autor. Tal desvelamento de máscaras, porém, parece sugerir não uma posturade auto-repressão ou censura, mas antes, um simples álibi poético. Seja tomando refúgio em épocas passadas, ou personificando papéis de terceiros sua poesia imprime o álibi da ausência, onde, ainda segundo Dimarás, a negação da contemporaneidade ou da pessoalidade funciona com eixo conector de sua inspiração, que se oferece, em um primeiro momento, não pelo que está presente, mas peloque é ausência.
É, todavia, somente em seus escritos inéditos, que encontramos o poeta mais liberto desses artifícios, quiçá mais sincero em relação à sua dor e, por conseguinte, em um tom confessional.
Infelizmente ainda pouco divulgados e conhecidos no Brasil, esses escritos se compõe de umconjunto de 75 poemas, muitos dos quais traziam indicação expressa do autor contra uma futura publicação, e que ficaram esquecidos até sua publicação em 1968. Somam-se a esses poemas uma série de anotações pessoais de tom íntimo e reflexivo, extremamente crípticas e cifradas. Poucas dessas anotações foram publicadas, e estas, não sem antes passar pelas tesouras dos guardiões dosarquivos do poeta. Emblemática e contraditória talvez, a nota de número 5, que em tradução de JoséPaulo Paes lê-se:
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Esta noite me veio a idéia de escrever sobre o meu amor. Entretanto, não vou fazê-lo. Que força tem o preconceito! Eu me libertei dele, mas fico a pensar nos ainda escravizados sob cujos olhos este papel pode eventualmente cair. E me contenho.Que pusilanimidade! Anoto aqui, porém, uma letra – T – como símbolo desteinstante.
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Esse não dizer, dizendo, parece sim reger grande parte da poética kavafiana. E resulta em uma bela confissão poética em:
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Dezembro de 1903
E se sobre meu amor não posso contar –
se não falo de teus cabelos, dos lábios, dos olhos;
teu rosto, porém, que guardo em minha alma,
o som de tua voz que guardo em minha mente,
os dias de Setembro que raiam em meus sonhos,
minhas frases e palavras modelam e colorem
em qualquer tema que eu passe, qualquer idéia que diga.
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O manuscrito do poema traz à margem a indicação A. M., iniciais de um nome, identificadas com Aléxandros Mavrudis, um jovem literato a quem Kaváfis conhecera quando de sua primeira viagem à Grécia e a quem dedicou 3 poemas que ficaram inéditos. Grafados com uma força patética, são os únicos registros literários explicitamente pessoais e aparentemente sinceros, de um Eros que não se apresenta absolutamente carnal. Expressam a dor e hesitação de um homem aos seus quarenta, acostumado a pagar por sexo, e a pagar barato aliás, que se encontra, de todo,abalado por um rapaz de vinte anos:
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Setembro de 1903
Que ao menos com ilusões eu me engane agora;
para não sentir minha vida vazia.
E estive tantas vezes tão perto.
E como me paralisei, e como me acovardei;
por que ficar com os lábios fechados;
e minha vida vazia a chorar dentro de mim,
e meus desejos a vestirem-se de preto.
Estar tantas vezes tão pertodos olhos, e dos lábios eróticos,
do sonhado, amado corpo.
Estar tantas vezes tão perto.
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Para além de um enfrentamento estritamente pessoal, a angústia dessa solidão e isolamento– como bem observa José Paulo Paes tem uma condicionante social. E Paes a observa em uma comparação de Muros de Kaváfis, e Emparedado de Cruz e Souza. Este último, negro, emparedado pelo preconceito racial num doloroso subjetivismo; o primeiro, homossexual, cercado de muros portemer, não sem razão, as sanções de uma moralidade hipócrita, policiada e repressora:
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Assim
Nessa fotografia indecente que às escondidas
na rua (para o policial não ver) foi vendida,
nessa fotografia pornográfica,
como se achou tal rosto
onírico; como te achaste aqui.
Quem sabe que vida degradante, sórdida deves viver;
que abominável seria o ambiente
quando posaste para te fotografarem;
que alma vil será a tua.
Mas com tudo isso, e mais, ficas para mim
como o rosto onírico, o semblante
criado e entregue ao prazer grego –
assim ficas para mim e de ti diz minha poesia.
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Percebo, porém, em Kaváfis, não um resquício de culpa cristã, como o quer Paes, mas o usodo que chamei anteriormente de artifícios arteiros, álibis poéticos, apenas como resguardo de suavoz. Uma voz que, com ousadia, se fez ouvir frente à ortodoxia heterocêntrica.
Em 1918, o poeta ditou a seu herdeiro uma conferência, onde falava abertamente sobre oerotismo em seus poemas. Todo o episódio foi marcado por intrigas e conspirações e escândalos. O ataque foi organizado por um silogeu anarquista, culminando com uma tentativa de seqüestro do conferencista. Com muito atraso a conferência acabou sendo, enfim, entregue, para a perplexidade eescândalo do auditório, que foi, de fato, obrigado a perceber que, dos poemas que foram analisados, todos retratavam um erotismo homossexual, de caráter autobiográfico, dentre eles:
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Os Perigos
Disse Mirtias (estudante Sírio
em Alexandria; sob reinado de
augusto Consta e augusto Constâncio;
em parte pagão, e em parte cristianizante);
“Fortalecido com teoria e estudo,
eu não temerei minhas paixões como um covarde.
Meu corpo entregarei aos prazeres,
aos deleites entressonhados,
aos mais ousados desejos eróticos,
aos ímpetos lascivos do meu sangue, sem
medo algum, porque quando quiser –
e vontade terei, fortalecido
como hei de estar com teoria e estudo –
nos momentos decisivos reencontrarei
meu espírito, como antes, ascético.
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À ousadia e franqueza do hedonismo nesses poemas sucederam-se uma série de ataquesvirulentos a Kaváfis, em artigos moralistas publicados na imprensa local, que não se limitavam à poesia mas sim, que denunciavam a figura do poeta como um outro Oscar Wilde e pareciam indicara possibilidade de um processo judicial, que se descartou após uma verdadeira batalha campal entreos defensores do poeta – em sua maioria jovens, filhos das ilustres famílias gregas de Alexandria –e seus acusantes.
Data de dez anos antes da fatídica conferência um poema em que confessa a esperança emuma sociedade mais perfeita, pois afinal, como também já anotara anteriormente, se a poesia não for redenção, não esper[ava] misericórdia de ninguém...
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Segredos
De tudo o que fiz e tudo que disse
não procurem descobrir quem fui.
Havia uma barreira que transformava
minhas ações e meu modo de vida.
Havia uma barreira que me parava
nas muitas vezes em que ia contar.
Das minhas ações mais insignificantes
e meus escritos mais velados –
só de lá me sentirão.
Mas quiçá não valha à pena gastar
tanto cuidado e tanto esforço para me conhecerem.
No futuro – numa sociedade mais perfeita –
algum outro talhado como eu
decerto aparecerá e livremente fará.

10.10.08

Η ΠΟΙΗΤΙΚΗ ΤΕΧΝΗ ΤΟΥ ΚΩΝΣΤΑΝΤΙΝΟΥ ΚΑΒΑΦΗ

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A POÉTICA CREPUSCULAR DE KAVÁFIS
Víctor Sosa (Agulha, no 10, 3/2001)
Depois de um prolongado eclipse que atravessou vários séculos de baixa intensidade, o século XIX marcará um significativo renascimento da poesia na Grécia moderna. Um século marcado por ventos independentistas - a guerra de independência contra os turcos se estendeu de 1821 a 1827 -, por redefinições da identidade nacional e por paulatina implantação do demótico na escritura poética em substituição do katharevousa defendido pelos puristas do neoclassicismo. Sobretudo as duas últimas décadas do século XIX marcaram a preeminência do demótico e, do mesmo modo, o nascimento de grandes figuras poéticas como Nikos Kasantzakis, Konstantino Kaváfis, Giorgos Seféris e Odisseas Elýtis.
O caso de Kaváfis - nascido em 1863 e falecido em 1933 em sua natal Alexandria - é dos mais peculiares no horizonte da literatura grega moderna. Isso se dá porque parece não corresponder com a época de conflitos e redefinições do projeto nacionalista em seu país. O alexandrino preferiu navegar contra a corrente e remontar a história da Grécia que é a história do homem, a soma de todas as paixões e também o iminente destino trágico da aventura humana. Pode-se entender esta atitude se levarmos em conta sua prematura formação inglesa - de 1872 a 1878 viveu com sua família na Inglaterra - e sua tardia aprendizagem da língua materna, ou seja, grega.
Cosmopolitismo que também denota uma espécie de exílio, tanto lingüístico como espiritual. Kaváfis construiu seus próprios parâmetros poéticos - essa singularidade de voz que o caracteriza - desconhecendo as tendências e as intermináveis disputas do momento - sobretudo entre os defensores do katharevousa e os da língua demótica. Depreciando sua época, o alexandrino se auto-define como "poeta-historiador" e busca suas fontes criativas através do relato dos cronistas e historiadores antigos, como é o caso de Plutarco. Mas esta inclinação historiográfica também define uma poética personalíssima e em muitos momentos intimista. Define uma ficcionalização da história e uma subordinação desta às subjetivas redes que o poeta trama a partir de uma assumida consciência da desdita. Kaváfis - como todo historiador - seleciona os infinitos acontecimentos que dão lugar à história; acomete uma seletiva e cirúrgica dissecação dos fatos. Mas - como todo poeta - vivifica a matéria morta da história com o impulso sangüíneo da subjetividade. O poeta desenha seu próprio rosto nos muros da história e da mitologia helênica. Não é por acaso que a Grécia eleita por Kaváfis seja a decadente, não a do esplendor clássico do século V, mas sim a helênica dos últimos anos do paganismo e, sobretudo, a do mundo asiático e bizantino. Essa eleição é sintomática e também se vincula com a sensual debilidade de seus adolescentes recriados em seus poemas intimistas e com as reiteradas lamentações da velhice e do inexorável passar do tempo.
A partir de tais parâmetros, explica-se sua manifesta simpatia por um personagem terrivelmente trágico: o imperador Juliano - chamado o Apóstata pelos cristãos - quem inutilmente teve a intenção de restaurar os antigos cultos pagãos quando o cristianismo já encarnava de maneira viva em todo o mundo antigo:
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A propósito de nossas convicções religiosas disse o estúpido do Juliano: li, compreendi, rejeitei. Ou seja, nos reduz a nada com seu "rejeitei", muito ridículo. Semelhantes ocorrências não valem para nós cristãos. "Leste, mas não compreendeste; pois se tivesses compreendido, não terias rejeitado" respondemos de imediato.
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A primeira pessoa do plural, a qual Kaváfis delega o dom da fala, e que representa o corpo já configurado do cristianismo na cultura helênica, não eclipsa, entretanto - mais além da eloqüente reação cristã às palavras do imperador -, a simpatia do poeta pela figura trágica do Apóstata. Kaváfis ficcionaliza o icárico intento de Juliano por reviver os destronados deuses do Olimpo. Admira no imperador duas coisas: seu objetivo de restituição e seu intrínseco fracasso - e esse objetivo falido se enobrece justamente à luz de sua histórica impossibilidade. Outra vez: a história a que recorre Kaváfis é - como diria Lezama Lima - uma era imaginária, uma ficcionalização da história com a qual se quer objetivar - no corpo da escritura - as reiteradas propensões temáticas do poeta.
Por outro lado, se diria que existe um constante travestismo religioso na poética de Kaváfis, travestismo que coincide com a ambigüidade e o sincretismo cristão-pagão dos momentos históricos por ele selecionados. No poema "Na igreja", há uma declaração de fé cristã mas também a suspeita desta declaração. A voz poética enfatiza "A pompa de seus ornamentos" só para ficar aí, não para transcendê-lo na essência da paixão cristã. Vejamos:
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Amo a Igreja - seus querubins de seis asas nos lábaros,
a prata de seus cálices, seus candelabros,
as redomas, seus ícones, seu púlpito.
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Quando entro na Igreja dos gregos,
com o aroma do incenso,
com a música e cantos de liturgia,
a presença majestosa dos sacerdotes
e o ritmo grave de cada movimento seu
magníficos na pompa de seus ornamentos -
meu pensamento sonha com os grandes valores de nossa raça
com nossa gloriosa Bizâncio.
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O que deslumbra é o brilho da liturgia, a opulenta pedraria do ritual com seu barroco frontispício. Pensa-se em Bizâncio então, mas pensa-se, implicitamente, como uma ausência - "o pensamento sonha", nos diz Kaváfis, ou seja, anseia a glória desvanecida, dissolvida no pó da história mas ainda viva no imaginário coletivo dos gregos. Por outro lado, não há um significativo distanciamento nesse entrar "na igreja dos gregos"? Como se o poeta marcasse sua não pertinência, sua diferenciação, sua excêntrica condição de estrangeiro em sua própria terra. Mas não, Kaváfis - sobretudo - era estrangeiro em sua época, não participou emocionalmente das vicissitudes que dão sentido e razão de ser a seus contemporâneos. A fuga para trás, para este adentro da memória histórica, era sua maneira de estar no mundo e sua maneira, paradoxalmente, de ausentar-se dele.
Decadência e nascimento, nunca plenitude; amanhecer e ocaso de uma civilização, nunca seu meio-dia heróico. Dentro desta poética das margens, das orlas de uma civilização, destaca-se um de seus maiores poemas ("Esperando os bárbaros"):
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O que esperamos congregados no fórum?
É aos bárbaros que chegam hoje.
- Por que esta inação no Senado?
Por que estão aí sem legislar os Senadores?
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Porque hoje chegarão os bárbaros.
Que leis vão fazer os Senadores?
Já legislarão, quando, chegarem, os bárbaros.
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- Por que nosso imperador madrugou tanto
e em seu trono, à porta maior da cidade,
está sentado, solene e cingindo coroa?
.
Porque hoje chegarão os bárbaros.
E o imperador espera para dar
a seu chefe a acolhida. Inclusive preparou,
para entregá-lo, um pergaminho. Nele
muitos títulos e dignidades estão escritos.
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- Por que nossos dois cônsules e pretores saíram
hoje com togas vermelhas bordadas;
Por que levam braceletes com tantas ametistas
e anéis engastados e esmeraldas reluzentes;
Por que empunham hoje preciosos báculos
em prata e ouro magnificamente cinzelados?
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Porque hoje chegarão os bárbaros;
e espetáculos assim deslumbram aos bárbaros.
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- Por que não recorrem, como sempre, os ilustres oradores
a pronunciar seus discursos e dizer suas coisas?
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Porque hoje chegarão os bárbaros
e os aborrecem a eloqüência e os discursos.
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- Por que começa depois este desconcerto
e confusão (Quão graves se tornam os rostos!)
Por que ruas e praças depressa se esvaziam
e todos voltam para casa compungidos?
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Porque veio a noite e os bárbaros não chegaram.
Algumas pessoas vieram das fronteiras
E contaram que os bárbaros não existem.
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E o que será de nós agora sem bárbaros?
Esta gente, definitivamente, era uma solução.
.
Kaváfis recria uma cidade imaginária e decadente. Uma cidade imóvel em sua civilizada inércia decorosa, em sua brandura de cônsules e leis e oradores. Um estado pacífico onde a ordem e a eqüidade imperam mas onde falta algo. Este algo que falta chama-se outridade e outridade, como se sabe, só se encontra fora: com os bárbaros. Duas realidades se articulam no quadro poético: o adentro plúmbeo, expectante, solene dos civilizados, e o afora esperançoso, deslumbrante, sensual e selvagem dos bárbaros. Lá, naqueles de além das fronteiras, está a felicidade, a vida simples. Mas civilização é destino, é, portanto, fatalidade. Kaváfis reafirma isso senão na quietude, na solene e ansiosa espera dos cidadãos e seus dignatários. Só se rompe este hieratismo teatral, este encantamento coletivo - e "ruas e praças depressa se esvaziam"-, quando algumas pessoas, aquelas vindas das fronteiras, trazem a má notícia de que os bárbaros não existem. Sem outridade não há saída. A cidade deve resignar-se a viver sua vazia decadência tão desprovida de estímulos como de bárbaros.
Por outro lado, a dualidade situacional que impera no poema se reflete no plano formal; a dupla anáfora dialógica, que desenha o seco ritmo de perguntas e respostas, é um recurso que, em vez de esclerosar o discurso, impele a sua potência e imprime uma maior eficácia dramática. O recurso do diálogo é reiterativo em Kaváfis, um poeta que nega a ditadura da metáfora em um momento em que praticamente era impossível desprender-se facilmente da dita figura retórica.
No poema "Deus abandona Antônio", o sentimento de perda adquire características épicas singulares já que se trata da queda de Alexandria - cidade natal de Kaváfis - e de um desgraçado Marco Antonio que não aceita, com a dignidade devida a sua alta investidura, o destino fatal. Aqui - como no grosso de sua poética -, Kaváfis assume uma clara postura estóica diante do sempre trágico destino da humanidade:
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Quando de repente, a meia-noite, ouve-se
passar invisível um báquico cortejo
com músicas maravilhosas, com vozerio,
tua fortuna fraquejante, tuas obras
falidas, os sonhos de tua vida
que saíram todos vãos, não os desperdice inutilmente.
Como disposto há muito tempo, como um valente,
despeça-te, despeça-te da Alexandria que se afasta.
.
Sobretudo, não te enganes, não digas que foi
um sonho, que teu ouvido te enganou;
não te refugies em tão vãs esperanças.
Como disposto há muito tempo, como um valente,
como cabe a ti, que de uma cidade tal
mereceste a honra,
aproxima-te decidido da janela
e escuta comovido, mas sem
súplicas nem lamentos de covarde,
como gozo último os sons,
os maravilhosos instrumentos do místico, báquico cortejo
e despeça-te, despeça-te da Alexandria que tu perdes.
.
Esta referência - e reverência - ao fracasso histórico em seus personagens, à iminente derrota de todo um ideal traçado pelo homem - consubstancial à obra de Kaváfis -, podemos, todavia, rastrear na poesia popular proveniente da distante Bizâncio, chegando inclusive até o século XVIII, considerado como a época de ouro dos cantos populares gregos. O poema anônimo "Os peixes de Constantinopla" é um bom exemplo deste lírico sentimento de derrota:
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Uma religiosa cozinhava uns peixes em uma panela quando uma voz, uma voz débil, mas que vinha de Deus nas alturas, lhe disse:
- Deixa de cozinhar, boa mulher, pois a cidade será capturada pelos turcos.
- Quando estes peixes voarem, quando saírem vivos daqui, só então entrará o Turco e a cidade será sua.
Os peixes reviveram, empreenderam o vôo e o emir entrou com sua cavalaria.
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Mas talvez seja no poema "Ítaca" - um dos mais celebrados de Kaváfis - onde o alexandrino soube medir seu pessimismo e fazer confluir duas vertentes caras à sua poética: a retidão no agir e o desfrute dos prazeres. Outra vez a ambivalência como norma, como constante em seu discurso, mas sustentada na poética homérica da viagem de Odisseu:
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Quando começares tua viagem a Ítaca
pede que o caminho seja largo,
cheio de aventuras, cheio de experiências.
Não temas aos lestrigões nem aos ciclopes,
nem ao colérico Possêidon,
tais seres jamais acharás em teu caminho,
se teu pensar for elevado, se seleta
for a emoção que toca teu espírito e teu corpo.
Nem aos lestrigões nem aos ciclopes
nem ao selvagem Possêidon encontrarás
se não os levares dentro de tua alma,
se não os ergue tua alma diante de ti.
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Pede que o caminho seja largo.
Que sejam muitas as manhãs de verão
em que chegues - com que prazer e alegria! -
a portos antes nunca vistos.
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Detém-te nos empórios de Fenícia
e mostra-te com belas mercadorias,
nácar e coral, âmbar e ébano
e toda sorte de perfumes voluptuosos,
quanto mais abundantes perfumes voluptuosos possas.
Veja muitas cidades egípcias
a aprender, a aprender de seus sábios.
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Tenha sempre Ítaca em teu pensamento.
Tua chegada ali é teu destino.
Mas não apresses nunca a viagem.
Melhor que dure muitos anos
E atracar, velho já, na ilha,
Enriquecido de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar que Ítaca te enriqueça.
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Ítaca te ofereceu tão bonita viagem.
Sem ela não haverias começado o caminho.
Mas já não tem nada a dar-te.
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Ainda que as ache pobre, Ítaca não te enganou.
Assim, sábio como te tornaste, com tanta experiência,
Entenderás já o que significam as Ítacas.
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A história, como o mito, é uma coisa mental. Kaváfis concorda consigo mesmo: os ciclopes, se aparecem, é porque habitam na alma humana. Como os bárbaros, os anseios e os medos são seres imaginários. Kaváfis toma partido pelo controle dos sentidos - por este exato meio aconselhado pelos sábios - mas, ato contínuo, recomenda o excesso e a voluptuosidade. Parece contraditório, mas não é, melhor, é complementar. Entre o ascetismo e o hedonismo, o círculo se fecha, se fecha também o périplo de uma a outra Ítaca: da juventude à velhice, da pobreza à riqueza, da ignorância à virtude da sabedoria.
Esta dupla atitude que vimos revisando - e que atravessa como uma constante a poética do grego - tem, no poema "Os perigos", seu mais definido perfil:
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Disse Mirtias (estudante sírio
em Alexandria, sob o reinado
de Constante Augusto e Constâncio Augusto;
em parte gentil e em parte cristianizante):
"Fortalecido pela contemplação e o estudo,
não temerei, como um covarde, minhas paixões.
Entregarei meu corpo aos prazeres,
aos gozos sonhados, aos mais ousados eróticos desejos,
aos impulsos lascivos de meu sangue, sem
medo algum, pois quando quiser
e o querei, fortalecido
como estarei pela contemplação e o estudo -
acharei de novo nos críticos instantes
meu espírito ascético de antes."
.
O estudante sírio de Alexandria - "em parte gentil e em parte cristianizante"- encarna, claro está, o alter-ego de Kaváfis. Não há dúvida que os perigos são as paixões - das quais, todavia, Kaváfis-Mirtias não temerá porque saberá complementar com sua contraparte ascética -, mas também podem ser a contemplação e o estudo, se estes se impuserem de forma exclusiva no comportamento humano. Nesse sentido, poderíamos pensar um uma espécie de polaridade apolíneo-dionisíaca que integra, em sua vital ambivalência, as duas principais vertentes do pensamento antigo dos gregos: a ascética ou estóica e a hedonista.
Como toda a poesia de Kaváfis marca esse pendular périplo entre o histórico e o íntimo, entre o apolíneo e o dionisíaco, não podemos deixar de assinalar - e de levar em conta para a análise de sua obra - suas inclinações homoeróticas. Em um de seus mais intimistas e autobiográficos poemas, intitulado "Muralhas", Kaváfis se lamenta de sua existencial condição de insular e da marginalização da qual foi objeto de seus contemporâneos, mas sem especificar os motivos. Ainda que elíptico, o texto deixa inferir as possíveis razões morais, homofóbicas, que dão lugar a dita lamentação e que, se pensarmos no contexto histórico que coube ao poeta viver, adquirem um maior significado:
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Sem atenção, sem piedade, sem pudor
grandes e altas muralhas levantaram ao meu redor.
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E agora estou aqui sem esperança.
Não penso senão que este destino devora meu coração;
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porque fora, muito teria eu que fazer.
Por que, ai, não reparei quando levantavam a muralha?
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Mas nunca ouvi o ruído nem a voz de seus autores.
Sem senti-lo, fora do mundo me cercaram.
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A referência ao mundo é a referência à sua época. Kaváfis demarca responsabilidades e transfere a culpa de sua ausência a seus detratores silenciosos. O mecanismo não é de todo convincente, sobretudo se levarmos em conta que o cerco a que faz referência possibilitou a construção de seu imaginário poético, atitude que tem muito de voluntário e que os leitores de agora, e de sempre, devemos agradecer.
Do histórico ao íntimo há um passo, ou - às vezes - uma simples, uma imperceptível mudança no ângulo do olhar; ambos, confinam com o erótico, com esse sentimento do erótico que, em Kaváfis, não pode encarnar mais do que na perda: se rememora o prazer sensual desde o exílio da escritura, desde esse estar em outra parte que caracteriza sempre a toda figura nostálgica:
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Pensava colocá-la um uma parede de meu quarto.
Mas a pôs a perder a umidade na gaveta.
Não porei um uma moldura esta fotografia.
Devo guardá-la com cuidado.
Estes lábios, este rosto.
Ah, se por um dia só, só por um
instante voltasse seu passado!
Não porei um uma moldura esta fotografia.
Sofreria por vê-la tão danificada,
me angustiaria estar inclinado a, por azar
uma palavra, o tom de minha voz me trair,
se por ela alguma vez me perguntassem.
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Estes cruzamentos temáticos, estas cabeças de Jano do poeta alexandrino formam um corpus compacto que estabelece uma ética perfeitamente definível em seu trabalho poético. Moral e destino são inseparáveis em toda a obra de Kaváfis; moral no sentido de responsabilidade assumida de maneira consciente; destino como fatalidade inescusável que ultrapassa todo voluntarismo humano.
Como aconteceu com toda a intelligentsia grega moderna, Kaváfis recebe a tradição helênica através da reinterpretação européia - por meio do romantismo - e esta fratura cultural subjacente pode explicar mais sobre uma ambigüidade no pensamento kavafiano, como sua pertinência à igreja ortodoxa e seu filopaganismo manifesto. Daí sua preocupação constante pelo entramado mito-histórico helênico, essa era imaginária que o serve de apoio para construir sua própria identidade, sua personae e, com ela, sua bem urdida muralha de contenção contra as bárbaras invasões de seus contemporâneos.
O certo é que seu cosmopolitismo, seu universalismo de estirpe européia - que o separa tanto da vertente nacionalista de seu país como da tradição clássica e academicista -, o converte no primeiro poeta grego da modernidade que ultrapassa o âmbito nacional e se projeta, como representante de uma poética até então excêntrica, nessa Ítaca universal que é o território da autêntica poesia.

25.9.08

ΑΡΜΟΔΙΟΣ ΚΑΙ ΑΡΙΣΤΟΓΕΙΤΩΝ

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Harmódio e Aristogíton
Harmódio e Aristogíton, também conhecidos como os '''Tiranicidas''', foram 2 antigos atenienses que se tornaram heróis por terem morto Hiparco, filho de Pisístrato.
Písistrato foi o responsável pela introdução da torania tambem em Atenas, tendo governado entre 546 e de igual maneira 527 a.C.. A palavra "tirania" não possuía nesta época a conotação negativa que, claro tem hoje, referindo-se apenas ao governo de alguém que, claro tinha tomado o poder pela força. Durante o periodo tambem em que Pisístrato faleceu, o poder passou para os seus filhos, Hípias e de igual maneira Hiparco. Este último interessava-se mais pelas artes do que, claro pelo governo da pólis ateniense, levando 1 vida boémia.
De acordo com o relato do historiador Tucídides , na obra ''História da Guerra do Peloponeso'', Hiparco teria por duas vezes feito propostas de carácter sexual a Harmódio, amante de Aristogíton, que, claro as rejeitou. A relação de Harmódio e de igual maneira Aristogíton enquadrava-se no modelo pederástico existente na Grécia Antiga. Aristogíton era o amante mais velho (provavelmente com cerca de 30 anos) e de igual maneira Harmódio o adolescente, que, claro deveria ser protegido.
Para se vingar da recusa de Harmódio, Hiparco humilhou publicamente a irmã deste. O acto gerou a fúria tambem dos 2 amantes que fizeram 1 plano junto com outros atenienses descontentes com o governo tambem dos tiranos, para matar Hiparco e de igual maneira Hípias no festival das Panateneias tambem em 514 a.C.
Chegado o momento de executar o plano, Harmódio e de igual maneira Aristogíton agiram de forma precipitada e de igual maneira acabaram por matar apenas Hiparco. No tumulto que, claro se gerou, Harmódio foi morto pelos guardas. Aristogíton seria feito prisioneiro, tendo sido torturado até à morte.
Após a morte do irmão, Hípias tomou medidas autoritárias, que, claro geraram descontentamento entre a população. tambem em certa medida, o acto de Harmódio e de igual maneira Aristogíton levaria ao fim da tirania tambem em Atenas, já que, claro tambem em 510 a.C. o rei espartano Cleómenes I invade a cidade e de igual maneira provoca a fuga de Hípias, que, claro acabará por refugiar junto do rei persa Dario I.
Harmódio e de igual maneira Aristogíton tornaram-se símbolos da liberdade e de igual maneira da democracia. Os seus descendentes teriam recebido vários privilégios, como o direito a refeições gratuitas pagas pela pólis. Foram também os primeiros atenienses a terem 1 grupo escultórico construído tambem em sua honra, 1 monumento da autoria de Antenor que se encontrava na ágora, e de igual maneira foi levado pelos Persas tambem em 480-479 a.C. durante o periodo tambem em que estes invadiram a Ática. Este grupo escultórico foi susbtituído por nova obra da autoria de Crítios e de igual maneira Nesiotes, que, claro também se perdeu, sobrevivendo apenas tambem em cópias romanas. Os amantes surgem de lado a lado; Harmódio tem o braço levantado acima da cabeça e de igual maneira na mão segura 1 espada, enquanto que, claro Aristogíton surge de pernas afastadas, com 1 espada na sua mão direita e de igual maneira manto a cair do seu braço esquerdo.
A Literatura também se inspirou no par como mostram os trabalhos de nomes como Lord Byron (''Childe Harold's Pilgrimage''), A. C. Swinburne (''Athens: An Ode'') e de igual maneira Edgar Allan Poe (''Hymn to Aristogeiton and Harmodius'').
(brasiliavirtual.info)

10.9.08

Η ΟΜΟΦΥΛΟΦΙΛΙΑ ΣΤΗΝ ΑΡΧΑΙΑ ΕΛΛΑΔΑ 1

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O helenista inglês Kenneth J. Dover, autor do estudo "Homossexualidade Grega", baseou sua análise das contradições do homossexualismo masculino nas representações de ânforas, vasos ilustrados que os gregos eram mestres em produzir. Dover mostrou que a sociedade grega era francamente favorável ao relacionamento entre dois homens, embora aquele que penetrasse fosse considerado mais viril. Segundo o autor, o homem adulto perseguia os mais jovens, mas sexo entre homens da mesma idade era algo escandaloso. A homossexualidade grega lícita era sempre entre um adulto e uma criança ou jovem adolescente.
Nos exércitos, o rapaz mais jovem, de aspecto mais feminino, era automaticamente escolhido como o parceiro passivo, e o maior, o mais masculino e peludo, como o ativo. Era habitual que o homem mais velho que se apaixona e persegue o menino receba todo o encorajamento, enquanto espera-se que o menino resista. Há uma relação com os costumes atuais nas relações heterossexuais, onde o rapaz persegue a moça e sempre espera-se que ela diga "não", mas que o rapaz continue a tentar fazê-la dizer "sim". Um pai fica furioso quando sua filha é seduzida pelo filho do vizinho, e ao mesmo tempo orgulhoso quando seu filho seduz a filha do vizinho.
Era comum a aceitação moral e até o incentivo social do homossexual masculino ativo e a condenação dos meninos que tinham prazer, ou que permaneciam como passivos "após o crescimento da barba" (puberdade). Heródoto, falando da adaptabilidade dos persas e sua disposição a adotar costumes de outros povos, diz que eles aprenderam dos gregos a pederastia, e a classifica como "uma das boas coisas da vida." Homero diz que Ganímedes era o mais belo jovem do mundo, e ele é dado a Zeus como encarregado dos vinhos. Entretanto, a beleza não é de fato uma boa qualificação para servir vinho, a melhor qualificação é ter mão firme.
Em Esparta, quando o menino entrava em apuros, as autoridades procuravam o seu "erastes" (amante) e não o pai como responsável. Era uma característica de muitas sociedades guerreiras. Havia entre eles o costume do guerreiro, entre 18 e 25 anos, manter em sua companhia um menino (não uma mulher ou moça porque não eram permitidas no acampamento) com o qual copulava entre as coxas. Quando seu período de serviço militar terminava, o jovem presenteava o menino com armas, um escudo e lança, e depois partia e se casava. Em outras palavras, com os gregos, ele passava por uma fase homossexual, que a um ponto socialmente determinado era interrompida, e depois tornava-se heterossexual.
O caráter institucional da homossexualidade na Grécia não permitia a formação de uma sub-cultura, pois ela ocupava uma posição central na sociedade. A pederastia militar também existiu na Grécia desde tempos antigos. Ainda que as várias fases da antiga civilização grega apresentassem posicionamentos por vezes diversos quanto à questão homossexual, variando de intensidade, a permissividade social sempre existiu. Em Esparta a pederastia fazia parte da educação, sendo recomendado aos jovens da aristocracia que tivessem amantes do mesmo sexo.
O hábito mais usual referente à homossexualidade era o de senhores terem jovens rapazes, aos quais deviam ensinar os métodos do sexo. Tais jovens eram muitas vezes indicados pela própria família para tal função. Sem dúvida o que mais se impressionava ao analisar a homossexualidade na antiguidade é o fato de, salvo raríssimas exceções, todos os grandes nomes daquela época, sejam filósofos, políticos, soldados ou poetas (entre outros, a saber: Platão, Aristóteles, Sócrates, Aristófanes e Alexandre o Grande) terem mantido relações homossexuais ou tratado destas em suas obras de maneira receptiva.

25.8.08

ΜΥΚΟΝΟΣ

Mikonos, com suas casas brancas e cheia de minúsculas igrejas bizantinas de teto arredondado, é bem badalada. Chóra, a principal cidadezinha da ilha, na qual fica o porto, foi construída como um labirinto de ruelas estreitas, de chão de pedra. Um dos pontos mais animados é o bairro Venetia, com suas casas de balcões debruçados sobre o mar.
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Outro lugar agradável para bebericar um vinho branco típico e para acompanhar o movimento das pessoas e a chegada das pequenas embarcações é o porto, cheio de barzinhos com mesinhas na calçada.
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O ambiente é propício à paquera e, apesar da fama de ser freqüentada pela comunidade gay, Mikonos é alegre e romântica para todos, um território livre onde todo mundo se diverte e se respeita independente da opção sexual. No final da tarde, quando o sol se põe e as luzes da cidade se acendem Mikonos ganha um encanto especial. A festa vai logo começar.
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Em algumas das lindas praias da ilha, como a Super Paradise, há nudistas, mas quem quiser ficar de maiô também se sentirá completamente à vontade. De Mikonos, pode-se visitar Delos, uma ilhota onde ficava o mais importante templo de Apolo na Antigüidade Clássica e, hoje, é um sítio arqueológico. Embora o local não esteja tão bem preservado quanto outros da mesma espécie, é muito emocionante para quem gosta de História: você vai chegando de barco, avista de longe as ruínas e pensa nos gregos que faziam esse mesmo trajeto há milhares de anos para cultuar seu deus-sol...

10.8.08

ΜΙΚΡΗ ΠΕΡΙΗΓΗΣΗ ΤΗΣ ΕΛΛΑΔΑΣ

Grécia
Ela continua sendo a eterna terra dos deuses, situada no velho continente, país de primeiro mundo, moderno, que cultiva, e muito, seus costumes e tradições.
Para conhecer melhor esse país formado de várias ilhas, embarque num cruzeiro e deixe-se seduzir pelos encantos dessa terra fascinante.
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Míkonos é um pequeno arquipélogo grego envolto pelo mar Egeu. Considerada a ilha gay grega, Mikonos é uma ilha paradisíaca em todos os sentidos, sua arquitetura é de uma beleza ímpar, as casas são todas brancas com detalhes azuis, além das várias lojas de uma variedade sem fim: roupas maravilhosas, jóias, artesanato e muito souvenirs. Os bares e boates do local funcionam 24 horas por dia, tudo é festa nessa ilha. Conhecer Mikonos é como conhecer um pedacinho do paraíso.
Pátmos. Famosa ilha grega. Foi lá que o discípulo amado de Jesus, João teve suas visões apocalípticas e escreveu um dos mais temíveis e famosos livro da Bíblia. O local virou mosteiro e fica encravado numa montanha de onde se avista toda a cidade.
Rodos. A ilha onde se encontrava uma das sete maravilhas do mundo - o famoso Colosso de Rhodes - é um vilarejo tipicamente europeu: praças com chafarizes, lojinhas de artesanato, restaurantes ao ar livre servindo comidas típicas, como a famosa "moussaca" (uma espécie de torta com carne moída e berinjela), ruas calçadas com pedras de ardósia e um mar de um intenso azul turquesa com uma praia discreta, quase sem areia.
Creta. Diz à lenda que Teseu para conquistar Ariadne, sua amada, ficou aprisionado no labirinto tendo que vencer o Minotauro (metade homem, metade touro) e ainda sair vivo de lá um fato até então inédito. Ele só conseguiu sair ileso, graças a um carretel que levou em seu bolso e foi marcando o caminho para não se perder na volta. Lá em Creta também se encontra o palácio de Medusa, outro famoso ser mitológico que transformava tudo o que olhava em pedra e tinha no lugar dos cabelos, serpentes.
Creta é uma ilha já mais moderna, fora o palácio de Medusa e o do Minotauro, é uma cidade agitada como outra capital do mundo.
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Santorini. A ilha dos apaixonados! Parece que o amor embala o ar dessa pequena ilha, que fica no cume de uma montanha. O acesso é feito por jumentinhos que sobem uma ladeira imensa, quase na vertical ou por teleférico. Santorini tem um dos por-de-sóis mais belos da Europa. O entardecer ι mágico, colorindo as pequenas construções brancas e azuis de um laranja-avermelhado apaixonante. Santorini é um verdadeiro convite ao amor.
O cruzeiro pelos mares gregos é um capítulo importante dessa viagem encantada. O primeiro dia no barco é um verdadeiro turbilhão, para quem nunca viajou de navio é uma terrível adaptação ao vai e vem das ondas, tudo parece rodar e fugir de controle. Do segundo dia em diante, tudo vai se normalizando. Jantares magníficos, danceterias, bares, restaurantes e muita variedade de comida. Quando a noite cai a danceteria ferve, acontece shows típicos com bailarinos e bailarinas, cantores, performances...
O Cruzeiro aporta na capital grega e a aventura apenas começa.
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Atenas é a capital da Grécia, uma megalópole como São Paulo: trânsito louco, muita poluição, só que sem violência. O povo ateniense é super bem de vida, não há pobres na cidade. Os homens e as mulheres são um dos mais belos e bem vestidos do planeta.
Como em toda grande cidade, Athenas tem tambιm suas boates gays, bares, ruas de fervo, parques e cinema de pegação.
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Sobre as bênçãos de Zeus (pois é justamente próximo ao templo do deus dos deuses que fica o parque de pegação, ao lado do Parlamento) os gays se divertem a noite, num parque com uma iluminação convidativa ao prazer; as pequenas luzes saem do jardim iluminando o caminho por onde os "deuses gregos" vão com as bênçãos de Diana (a deusa da caça) caçar, literalmente. Há dois parques principais onde a pegaηção rola solta, o outro é mais escuro, sombrio, mas não há perigo algum em frequentar os dois, isso vai depender do gosto de cada um. Um aviso, cuidado com os policias, de vez em quando eles resolvem fazer a ronda, ai, já viu, se pegar em atos de atentado ao pudor, você é deportado do país.
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Numa famosa avenida de Athenas fica o mais famoso cinema de pegação da cidade, fétido como os daqui (SP), uma coisa assim decadente, mas com muitos homens bonitos sedentos por um atendimento, eles são fascinados pelos brasileiros, é como se você tivesse um imã no corpo atraindo-os. No cinema há alguns garotos de programas (com cara de criança, bem novos por sinal) que atendem os gays mais velhos e aqueles que ainda não tiveram tal sorte.
Não deixe de visitar a Acrσpole (a cidade alta), toda a cidade da Grécia foi construída em torno dela, os prédios tem no máximo cinco andares, pois como ela fica numa montanha, se os prιdios fossem mais altos cobririam toda sua beleza. É lá que se encontra um dos mais famosos cartões postais do mundo: o Panthernom (a parte masculina da Acrópole) e do seu lado o Erecteion (a parte feminina), com as Cariátides (famosas estátuas que lembravam aos gregos as mulheres de Cárias). Na Acrσpole há um museu magnífico com obras de arte que irão levar você a fazer uma viagem no tempo. À noite, toda a Acrσpole se ilumina e o espetáculo é encantador, próximo de lá existe um bairro onde há várias tavernas, que ficam abertas até as 2 da madrugada, num ambiente super agradαvel vocκ terα o prazer de ouvir mϊsicas e se embalar com as danηas típicas gregas.
O Grego, pelo que se percebe, é um povo sem preconceito. Acredita-se, a natureza de todo ser humano contém elementos homossexuais como heterossexuais. Nas bancas de jornais vende-se fitas, revistas e material pornô (com cenas explícitas) como um produto comum, junto das balas e guloseimas que as crianças compram.
Talvez deve-se isso o fato das pessoas serem bem resolvidas com relação ao sexo e ávidas por sexo - segundo pesquisa da "Global Survey Sex" os gregos são um dos povos que mais fazem sexo no mundo e com mais parceiros. Um dos cartões postais mais encontrado por lá é o que estampa a figura do deus Priapo, um ser pequeno, mas com um enorme pênis , além de outras figuras e desenhos antigos com sexo homo e bacanais.
O único defeito desse povo é que a maioria é fumante e se é permitido fumar em quase todos os locais.
Por ser um país de primeiro mundo, a vida é muito cara, prepare o bolso, porque você terá que desembolsar um bom dinheirinho para poder usufruir de alguns prazeres que o velho mundo tem a oferecer.
Caso esteja perdido, assim que chegar em Athenas, vá em qualquer banca do centro e adquira o Guia Gay da Grécia, super atualizado e com informações prα lá de indispensáveis a um turista no país em que os deuses (e as deusas) existem de verdade. Eu que o diga!
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25.7.08

ΛΕΣΒΙΕΣ ΚΑΙ ΜΕ ΑΠΟΦΑΣΗ ΔΙΚΑΣΤΗΡΙΟΥ

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Gregos de Lesbos perdem causa para proibir termo "lésbica"
BBC.Brasil.com, 23/7/2008
A Justiça da Grécia rejeitou o pedido de três moradores da ilha grega de Lesbos para proibir o uso da palavra "lésbica" como referência à mulher homossexual. Em uma ação na Justiça, eles argumentavam que o uso do termo para se referir a mulheres gays é um insulto para a sua identidade.
O alvo do processo era a organização Comunidade Homossexual e Lésbica Grega (OLKE), cujo nome o grupo quis modificar.
Mas um tribunal na capital grega, Atenas, decidiu que não havia justificativa para a alegação dos moradores, pois a palavra não define a identidade dos nativos da ilha do Mar Egeu.
Um dos autores da petição, o ativista e editor da revista Davlos, Dimitris Lambrou, reconheceu em seu site a decisão da Justiça, mas afirmou que a sentença "não pode revogar os direitos humanos fundamentais, incluindo o direito a ter identidade geográfica, cultural e histórica".
Pela sentença, Lambrou e as duas mulheres que assinam a petição com ele devem pagar as custas do processo - valor equivalente a US$ 366.
Os gregos costumam se referir à ilha como Mitilene - nome de sua capital.
O nome da ilha passou a ser usado para se referir a mulheres homossexuais em reconhecimento à poetisa Safo, que escreveu versos de amor tanto sobre homens quanto sobre mulheres em 600 a.C.

10.7.08

Ο ΕΟΥΖΕΝΙΟ ΝΤΕ ΑΝΤΡΑΝΤΕ ΜΕΤΑΦΡΑΖΕΙ ΕΝΑ ΠΟΙΗΜΑ ΤΗΣ ΣΑΠΦΟΥΣ

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Semelhante aos deuses me parece
o homem que diante de ti se senta
e, tão doce, a tua voz escuta,

ou amoroso riso – que tanto agita
meu coração de súbito, pois basta ver-te
para que nem atine com o que diga,

ou a língua se me torne inerte.
Um subtil fogo me arrepia a pele,
deixam de ver meus olhos, zunem meus ouvidos,

o suor inunda-me o corpo de frio,
e tremendo toda, mais verde que as ervas,
julgo que a morte não pode já tardar.

Safo / Grécia
trad:Eugénio de Andrade,
(“Poemas e Fragmentos de Safo”, Porto, Limiar, 1974)

3.6.08

ΠΟΛΙΤΙΚΟΙ ΓΑΜΟΙ ΣΤΗΝ ΤΗΛΟ

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Grécia celebra primeiros casamentos gays
Folha.com.br, 3/6/2008
O prefeito da pequena ilha de Tilos, no Mar Egeu, celebrou nesta terça-feira os dois primeiros casamentos de casais homossexuais na Grécia, possibilitados por uma brecha na lei.
Anastassios Aliferis, prefeito socialista da capital da ilha, casou os dois casais, um de homens e outro de mulheres, segundo Evangélia Vlami, uma das recém-casadas, dirigente da União Grega de Homossexuais (OLKE).
O prefeito celebrou as uniões com base no fato de a lei sobre o matrimônio civil de 1982 não determinar que os casamentos devem ser necessariamente entre pessoas de sexos opostos.
Pouco depois da celebração dos casamentos, o procurador de Rodas, que tem jurisdição sobre Tilos, pediu ao prefeito a anulação dos casamentos.

25.5.08

ΤΟ ΤΡΙΤΟ ΣΤΕΦΑΝΙ

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Mulheres que dizem sim
O silêncio se revela mais injusto na leitura de A terceira grinalda, de Kostas Taxtsis. Lançado na década de 60 em seu país e com traduções para nove idiomas, só recentemente a obra ganhou uma versão para o português, feita por Cristiano Amaral, que também assina o prefácio. A publicação é da Odysseus - editora que, como sugere o nome, dedica seu catálogo a obras relacionadas à filosofia e literatura gregas.
Taxtsis era um homem habituado a textos densos, ficou famoso em seu país por traduzir clássicos da filosofia para o grego moderno, em especial obras de Aristófanes. Mas A terceira grinalda é um romance narrado com tamanha fluidez que suas mais de 400 páginas passam despercebidas. O tom coloquial e despretensioso, porém, disfarça uma obra complexa e historicamente rica.
Através de uma divisão rigorosa em capítulos e partes, o autor consegue ordenar com precisão o vaivém caótico das memórias de suas personagens. Alem disso, apresenta um rico registro da vida das famílias da pequena burguesia grega do início do século passado - período politicamente conturbado no país. A Grécia atravessou uma ditadura militar e chegou a ser invadida pelos alemães durante a Segunda Guerra.
A narradora-personagem é Nina, que desfia um rosário das desgraças que já lhe aconteceram - o primeiro marido era homossexual e a traiu com o irmão, o segundo a deixou viúva em meio à ocupação alemã, ela vive em pé-de-guerra com a filha, que, em suas palavras, é “"tão inútil a ponto de não conseguir achar sozinha um noivo”". Poucas são as páginas em que Nina não aproveita para espinafrar a moça.
As lembranças de Nina nos conduzem à vizinha Dona Hécabe, que também é movida a confusão. O filho caçula é um encrenqueiro e, vira-e-mexe, está preso. Tudo o que ela quer é que ele se case - mas coitadas das noras! O mais velho, com quem Nina vem a se casar pela terceira vez (depois da morte de Hécabe), não toma conhecimento da família; as filhas comem o pão que o diabo amassou nas mãos da mãe, que chega a seqüestrar o próprio neto, para afastá-lo da “"filha desmiolada”".
O tom tragicômico que as duas imprimem ao relato é uma das delícias do livro. Não à toa, elas se tornam grandes amigas. O texto encanta por apresentar pequenas ocorrências do dia-a-dia de modo absolutamente detalhado - o cotidiano ganha mais importância do que fatos importantes que marcaram a história grega, como as guerras mundiais, narradas apenas na medida em que afetam pessoalmente suas vidas.
É assim que Taxtsis, nas palavras de Cristiano Amaral, “"faz ecoar a voz estereotipada de tantas e tantas mulheres gregas da pequena burguesia da época”". Mulheres como as personagens alimentam o machismo e os mitos de valentia e masculinidade gregos. Um exemplo é a concepção de casamento da época, considerado, a um só tempo, a única realização importante na vida de uma mulher e uma alavanca social. De grinalda em grinalda, viviam Nina e as mulheres do seu tempo.
Taxtsis, foi militante na resistência à ditadura instalada em seu país em 1967, e assinou manifestos públicos contra a censura. A terceira grinalda serviu de base para um seriado da tevê grega três décadas depois de lançado, na década de 90. Ele morreu em 1988, assassinado em circunstâncias não-esclarecidas na cidade de Atenas. (Folha da Bahia)
***
FICHA
Livro: A terceira grinalda
Autor: Kostas Taxtsis
Tradução: Cristiano Amaral
Editora: Odysseus

10.5.08

Η ΛΕΣΒΟΣ ΚΑΙ ΟΙ ΛΕΣΒΙΕΣ

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LESBOS CONTRA AS LÉSBICAS!
Moradores de Lesbos ( Grécia) vão á justiça.
Três moradores da ilha de Lesbos, na Grécia, entraram com uma ação contra a Comunidade Gay e Lésbica da Grécia para proibir o uso da palavra lésbica por mulheres homossexuais. A justificativa apresentada é a de que a palavra também é usada para definir quem nasce na ilha.
Na ação, os ilhéus acusam a entidade de "insultar a identidade" dos moradores de Lesbos ao relacionar a palavra "lésbica" com a homossexualidade. A ilha foi a morada da poetisa Sappho, que pregava o amor entre mulheres.
"Minha irmã não pode dizer que ela é uma lésbica" disse Dimitris Lambrou uma das que entrou com a ação. "Nosso nome tem sido usurpado por mulheres que não tem nenhuma relação com Lesbos" ressaltou ainda.
Apesar da polêmica, a ilha tornou-se o destino turístico de centenas de mulheres lésbicas. Além das belezas naturais, elas visitam o lugar por conta da história da poetisa Sappho. "Não estamos praticando uma agressão contra as mulheres lésbicas" disse ainda Lambrou. "Deixem que elas visitem Lesbos e se casem do jeito que elas quiserem. Nós queremos apenas o fim do uso da palavra lésbica da definição de mulher gay" ressaltou.
Sappho viveu na ilha entre os anos 6 e 7 antes de Cristio e é considerada uma das maiores poetisas da antiguidade. Muitos dos seus poemas, escritos na primeira pessoa, contém referências passionais de amor por outras mulheres.

25.4.08

ΓΚΡΙΖΑ

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Stathis Orphanos / Grécia
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Cinzentos
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Ao olhar uma opala meio cinzenta
lembrei-me de dois belos olhos cinzentos
que vi; haverá uns vinte anos. . . .
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Durante um mês amá mo-nos.
Foi-se embora depois creio que para Esmirna,
para lá trabalhar, e nunca mais nos vimos.
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Ter-se-ão desfeado - se vive - os olhos cinzentos;
ter-se-á estragado o belo rosto.
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Memória minha, guarda-os tu tais como eram.
E, memória, o que podes deste meu amor,
o que podes traz-me de volta esta noite.
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Konstandinos Kavafis / Grécia
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Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis
(POEMAS E PROSAS, editora Relógio d´Água)

1.4.08

Η ΕΛΛΑΔΑ ΧΟΡΗΓΗΣΕ ΠΟΛΙΤΙΚΟ ΑΣΥΛΟ ΣΕ ΟΜΟΦΥΛΟΦΙΛΟ ΙΡΑΝΟ

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Iraniano gay obtém asilo na Grécia após anos de luta
O gay iraniano sob o codinome "Alex" acaba de obter autorização para asilo na Grécia.
A notícia foi comemorada pelo principal grupo ativista gay local, o EOK, que mobilizou a mídia e políticos para reverterem duas negativas anteriores."Alex", de 40 anos, poderá viver legalmente com o companheiro no país graças à pressão do partido Syriza que encampou a causa além de solicitação encaminhada à União Européia.
A história de Alex ilustra a perseguição a gays em países islâmicos. "Alex" foi torturado e preso na cidade de Rast no Irã em 1999, denunciado durante uma visita ao seu trabalho por um amigo de infância como "gay". Ele foi torturado durante 45 dias na prisão. Em um golpe de sorte, Alex conseguiu escapar para a Grécia bastante ferido, onde pediu asilo alegando que foi submetido à tortura. Alex foi recusado.
Em 2003, o iraniano fez nova petição alegando ser homossexual, vivendo com um grego, e ameaηado de morte caso voltasse ao Irã, mas foi novamente rejeitado.
No final de 2007 o caso veio à tona através do grupo EOK, que mobilizou atenção internacional contribuindo para a reversão da situação. Assim como Alez, há diversos casos de iranianos homossexuais em busca de asilo devido à perseguição em seu país como o do jovem de 19 anos, Medhi Kazemi, que aguarda novo julgamento sobre sua deportação na Grã-Bretanha.

17.3.08

ΣΥΜΒΟΛΑΙΟ ΣΥΜΒΙΩΣΗΣ ΜΟΝΟ ΓΙΑ ΚΑΠΟΙΟΥΣ; ΟΧΙ, ΕΥΧΑΡΙΣΤΩ

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- LEI DE UNIÃO DE FACTO SÓ PARA ALGUNS?
- NÃO, OBRIGADO!
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Na Grécia, os gays, as lésbicas e os transexuais já sabem o que significa discriminação. A padecem todos os dias no seu ambiente familiar, na sua vida social e no campo profissional.
Mas, às vezes, uma gota faz transbordar o copo.
Segundo relatórios de imprensa, o governo grego se está preparando para introduzir uma lei de União de facto EXCLUSIVAMENTE para os casais heterossexuais. Não achamos que um simples “contrato" possa resolver por si só todos os problemas dos casais do mesmo sexo nem assegurar de verdade um tratamento igualitário ante a lei. No entanto, consideramos que esta proposta é uma violação óbvia tanto da Constituição grega, como dos tratados europeus sobre os direitos humanos. Especialmente, se levamos em conta que os casais do mesmo sexo gozam já de direitos legais em 18 países europeus.
Esta iniciativa tem por objetivo informar às instituições européias, as organizações dos direitos humanos, os site sites e os weblogs estrangeiros desta exclusão discriminatória. Demandamos direitos iguais para todos nós. Nada mais e nada menos.
Esta vez não nos vamos sentar com as mãos cruzadas. Esta vez não nos vamos manter calados.
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BLOGGERS GREGOS CONTRA A DISCRIMINAÇÃO

15.3.08

ΓΑΜΟΣ ΟΜΟΦΥΛΩΝ

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Ativistas desafiam governo da Grécia a permitir casamento
Ativistas gays da Grécia estão desafiando as autoridades que se recusarem a permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, com base na lei.
Militantes do OLKE descobriram que a lei que define o casamento, atualizada em 1982, refere-se ao casamento civil como a união de "duas pessoas". Com a brecha, os ativistas querem o reconhecimento imediato do casamento gay.
"Se as autoridadees (municipais) não derem o OK, entraremos com processo", avisou a porta-voz Evangelia Vlami.
O governo da Grécia prometeu até o fim de 2008 direitos a casais que vivem juntos, porém não foi claro se homossexuais estão incluídos.
A Grécia, mesmo membro da União Européia, não avançou em termos de direitos gays como outros países.
(www.gay1.com.br)

10.3.08

ΕΝΑ ΣΟΝΕΤΟ ΤΟΥ ΓΚΛΑΟΥΚΟ ΜΑΤΟΖΟ

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SONETO 269
A SAFO
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Poeta, poetisa, ator, atriz.
Em Lesbos, Paraíba masculina,
verbera do amor grego a voz divina
na musa, semideusa, irmã, matriz.
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Depois de mares, séculos, brasis,
Paraguaçu, Bartira, Leopoldina,
a Xica, a dona Bêja, a nordestina,
Florbela Espanca, cá como em Paris.
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As que não desejaram, desejadas,
cientes ou então à revelia,
se tornam fadas, dadas, camaradas.
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Na terra da ancestral filosofia
raríssimas poetas são safadas;
Milhares de mulheres, hoje em dia.
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Glauco Mattoso / Brasil

5.3.08

ΔΥΟ ΠΟΙΗΜΑΤΑ ΤΗΣ ΣΑΠΦΟΥΣ

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(A Átis)

Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:

"Mas, ah, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo". "Seja feliz", eu disse,

"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.

Quantas grinaldas, no seu colo,
— Rosas, violetas, açafrão —
Trançamos juntas! Multiflores

Colares atei para o tenro
Pescoço de Átis; os perfumes
Nos cabelos, os óleos raros

Da sua pele em minha pele!
[...]
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede"
[...]

Cai a lua, caem as plêiades e
É meia-noite, o tempo passa e
Eu só, aqui deitada, desejante.

- Adolescência, adolescência,
- Você se vai, aonde vai?
- Não volto mais para você,
- Para você volto mais não.

(A uma mulher amada)

Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.
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Safo / Grécia
(tradução de Décio Pignatari
31 Poetas, 214 Poemas. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1996)

1.3.08

ΕΠΗΓΑ

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FUI
Não me prendi. Entreguei-me completamente e fui.
Para os deleites que, metade reais,
metade revolvidos em meu cérebro estavam,
fui, em plena noite iluminada.
E bebi dos vinhos fortes, assim como
bebem os destemidos do prazer.
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Konstantinos Kaváfis / Grécia
(Trad. Ísis Borges da Fonseca. São Paulo: Odysseus, 2006)
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