25.11.08

ΓΑΝΥΜΗΔΗΣ

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GANIMEDES
Roberto Piva
.
76
Teu sorriso
olhinhos como margaridas negras
meu amor navegando na tarde
batidas de pêssego refletindo em seus olhinhos de
fuligem
cabelos ouriçados como um pequeno deus de salão
rococó
força de um corpo frágil como âncoras
gostei de você
eu também
amanhã então às 7
amanhã às 7
tudo começa agora num ritual lento & cercados de
gardênias de pano
Teu olhar maluco atravessa os relógios as fontes a tarde
de São Paulo como um desejo espetacular tão
dopado de coragem
marfim de teu sorriso nascosto fra orizzonti perduti
assim te quero: anjo ardente no abraço da Paisagem

2 σχόλια:

Deus_grego είπε...

Na mitologia grega, Ganímedes era um príncipe de Tróia, por quem Zeus se apaixonou. Nas imediações de Tróia, o jovem cuidava dos rebanhos do pai, quando foi avistado por Zeus. Atordoado com a beleza do mortal, Zeus transformou-se em uma águia e raptou-o, possuindo-o em pleno vôo. Ganimedes foi levado ao Olimpo e, apesar do ódio de Hera, substituiu a deusa Hebe e passou a servir o néctar aos deuses, bebida que oferece a imortalidade, derramando, depois, os restos sobre a terra, servindo aos homens. Em homenagem ao belíssimo jovem, Zeus colocou-o na constelação de Aquário.

pt.wikipedia.org

Deus_grego είπε...

Roberto Piva nasceu na cidade de São Paulo, em 1937. Sua primeira publicação importante deu-se na Antologia dos novíssimos (São Paulo: Massao Ohno, 1961), e sua estréia em livro ocorreu em 1963, com o livro Paranóia, um livro criado na linhagem visionária de William Blake, ligado aos experimentos em fanopéia dos surrealistas, e no qual Roberto Piva invoca e alinha-se às figuras dos brasileiros Mário de Andrade e Murilo Mendes, proclamando o desregramento dos sentidos e posturas em sua cruzada pessoal pela cidade de São Paulo.
Publicou mais tarde os livros de poemas Piazzas (1964), Abra os olhos e diga ah! (1975), Coxas (1979), 20 poemas com brócoli (1981), Quizumba (1983), Antologia poética (1985) e Ciclones (1997). Com a abertura pluralizante da década de 90 e o arrefecimento da hegemonia construtivista na poética brasileira, ocorre no final da década a valorização da obra de Roberto Piva, assim como a de Hilda Hilst, estabelecendo-os como figuras notáveis e exemplares no início do século XXI, e levando à publicação, por uma grande editora comercial, de suas obras reunidas. Os livros de Roberto Piva foram reunidos em três volumes, publicados pela Editora Globo:
Um estrangeiro na legião, Mala na mão & asas pretas e o recém-lançado Estranhos sinais de Saturno.
Ainda que um livro como Paranóia possa ressentir-se de um certo "tardo-surrealismo", os livros publicados por Roberto Piva entre as décadas de 60 e 80 demonstram uma grande liberdade de espírito e fidelidade a suas próprias convicções poéticas em meio ao silêncio crítico retumbante, que imperou sobre seu trabalho por décadas, lançando-o à margem dos debates poéticos do período. A década de 60 presenciou o surgimento de poetas bastante distintos, e que nos 15 últimos anos passaram a comandar a atenção tanto da crítica como dos poetas mais jovens. Entre os poetas mais fortes surgidos na década de 60 e influentes sobre os poetas de hoje, Roberto Piva assume seu papel constante de estranho-no-ninho, sua vocação maior, entre os outros poetas notáveis do período como, por exemplo, Orides Fontela (1940 - 1998), Sebastião Uchoa Leite (1935 - 2003), Torquato Neto (1944 - 1972) e Sebastião Nunes, o outro sobrevivente, assim como Piva, tanto do silêncio da crítica como das agruras políticas do período.

Não há mais motivos para oposições e trincheiras. Tempo para semear e para colher, sim, mas momentos também para o visionário e momentos para o projetista, para o vates e para o faber, instantes em que precisamos de poetas que nos incitem corporalmente ao embate (a lover´s quarrel, nas palavras de Robert Frost) com o mundo, e instantes em que precisamos de poetas que nos afiem o intelecto. A maioria dos bons poetas é capaz de ambos, ao mesmo tempo. No entanto, se há dias em que necessitamos do lirismo contido-condensado de Lorine Niedecker, George Oppen e Augusto de Campos, há outros dias em que apenas o "expansionismo mítico" de Robert Duncan, Roberto Piva e Hilda Hilst pode servir de fertilizante para os nossos nervos-à-flor-da-pele. Enquanto em lugares como São Paulo, alguns grupos de poetas ainda dedicam-se exclusivamente a garantir sua hegemonia no seio da atenção crítica da década, tentando transformar sua poética em sinônimo de contemporâneo, nada melhor que aprender com Roberto Piva sobre a fidelidade às próprias crenças est(É)ticas.

---nota introdutória de Ricardo Domeneck

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