25.1.11

ΚΕΡΙΑ

Dimitris Yeros (Grécia)

VELAS

Os dias do futuro erguem-se diante de nós
como uma série de pequenas velas acesas -
pequenas velas douradas, quentes e vivas.

Os dias passados ficam atrás,
uma triste fileira de velas apagadas;
as mais próximas ainda exalam fumaça,
velas frias, derretidas e recurvadas.

Não quero vê-las; entristece-me seu aspecto,
e entristece-me lembrar seu primeiro clarão.
Adiante contemplo minhas velas acesas.

Não quero voltar-me para não ver, apavorado,
com que rapidez a sombria fileira se alonga,
com que rapidez se multiplicam as velas apagadas.

Poemas de K. Kaváfis (Odysseus, 2006)
Tradução: Ísis Borges da Fonseca


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1899

1 σχόλιο:

Ανώνυμος είπε...

Konstantinos Kaváfis, nascido e falecido em Alexandria, no Egito, (1863-1933) é um dos mais fascinantes, mas também um dos mais desconcertantes poetas da poesia grega moderna. Esse homem solitário, que, nas palavras de Kazantzákis, realizou “a proeza da arte, orgulhosa e silenciosamente, e submeteu a curiosidade, a ambição e a sensualidade ao ritmo severo de uma ascese epicuréia”, deixou uma obra rara, minuciosa e quantitativamente pequena: apenas 154 poemas breves. Mas, no escrever esses poemas e retocá-los obstinadamente até a forma com que desejou que se tornassem conhecidos do mundo, criou uma das obras poéticas mais originais do século XX.

De fato, alguns de seus poemas parecem pertencer ao domínio da alquimia, uma vez que na sua elaboração ele utiliza, simultânea e indistintamente, tanto citações de poetas ou filósofos antigos, fragmentos de inscrições funerárias, crônicas helenísticas ou bizantinas, quanto notações ou expressões tomadas de empréstimo da língua cotidiana, transformando em poesia ingredientes fundamentalmente não-poéticos, de origem prosaica. Na verdade, Kaváfis encontra-se na fronteira em que a poesia se despoja e confina com a prosa.

Temível fronteira que separa e ao mesmo tempo une a prosa e a poesia, tão impalpável e tênue em sua obra quanto um fio estendido entre dois abismos, no qual o tradutor deve se arriscar à maneira de um equilibrista! É isso que torna tão difícil, em todo caso, tão aleatória, qualquer tradução de Kaváfis: o equilíbrio a ser mantido entre as notações, enunciados, citações ou fragmentos prosaicos que entremeiam seus poemas e o próprio poema, constituído muitas vezes de materiais não-poéticos, como acuradamente notou Lacarrière.

Igualmente sensível a essa notação, a tradução de Ísis Borges da Fonseca, filia-se à corrente que considera que a poesia kavafiana não se distingue nem pela musicalidade nem pelos meios habituais de expressão, julgando-a antes como uma poesia que se assemelha à prosa, cuja força estética dimana sobretudo de seu interior, e cuja expressão peculiar, como assinalou Pontani, é de caráter muito mais dramático que lírico.

Seu grande mérito foi o de ter vertido fielmente todo o conteúdo dos poemas graças ao seu extraordinário domínio do grego antigo bem como da língua neo-helênica possibilitando ao leitor brasileiro um contato direto com o sentido exato de cada palavra ou expressão, cruciais para a compreensão do pensamento e da refinada artesania de um dos poetas mais célebres da Grécia moderna; pois, como afirmou Kazantzákis, “o verso de Kaváfis aparentemente improvisado, mas sabiamente elaborado, sua linguagem deliberadamente antinômica, sua rima despretensiosa formam o único corpo que podia fielmente envolver e revelar sua alma. Corpo e alma em seus poemas constituem uma unidade. Raramente na história da literatura grega houve uma tal unidade tão organicamente perfeita”.


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